Biodiversidade Troglófila no Brasil: uma fauna negligenciada em ações de conservação

Autores

  • Marcus Vinícius da Silva Agua Duarte Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Laboratório de Estudos Subterrâneos https://orcid.org/0000-0002-8312-3166
  • Jonas Eduardo Gallão Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal, Avenida Fernando Corrêa da Costa nº2367, Campus da UFMT https://orcid.org/0000-0002-5268-7946
  • Maria Elina Bichuette Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Laboratório de Estudos Subterrâneos https://orcid.org/0000-0002-9515-4832

Resumo

Resumo Habitats subterrâneos ou hipógeos, embora possuam filtros para colonização, podem apresentar elevada biodiversidade, com fauna original e grande endemismo. Essa biodiversidade é classicamente categorizada em Trogloxenos (aqueles que usam o reino hipógeo como abrigos e precisam sair com frequência para completar seu ciclo de vida), Troglófilos (“moradores de cavernas facultativos”) e Troglóbios (restritos a habitats subterrâneos), sensu Schiner-Racovitza (1907). Organismos troglófilos são definidos como aqueles capazes de completar seus ciclos de vida tanto no ambiente epígeo (superficial) quanto no hipógeo e são importantes porque podem ser ancestrais potenciais dos troglóbios e/ou possíveis recolonizadores do ambiente epígeo em um evento de desaparecimento de populações superficiais. Os estudos de biodiversidade são muito importantes para reconhecer ameaças e permitir a criação e aplicação de políticas de conservação eficazes, mas são dificultados por shortfalls, principalmente Linneanas (riqueza) e Wallaceanas (distribuição), devido a impedimentos de acesso a habitats subterrâneos e/ou impedimentos descritivos ligado a problemas e dificuldades taxonômicas, que levam a incertezas sobre a diversidade e distribuição dos animais. Para habitats hipógeos, os projetos de biodiversidade concentram-se principalmente em troglóbios, e os troglófilos têm sido historicamente negligenciados em estudos faunísticos. Para tanto, criamos um banco de dados sobre troglófilos, realizando um levantamento detalhado de trabalhos que apresentavam listas faunísticas de cavernas brasileiras e respectivas categorizações de sua fauna. Além disso, consideramos se as shortfalls influenciaram o conhecimento da biodiversidade troglófila. Foram catalogadas 223 espécies troglófilas descritas, distribuídas em 51 Ordens e cinco Filos, dos quais os principais representantes são as aranhas (49 espécies). Essas espécies estão distribuídas em 18 estados federativos e 10 regiões biogeográficas do Brasil, com maior concentração nos estados de Minas Gerais e São Paulo, que compreendem as províncias biogeográficas do Cerrado e da Floresta do Paraná. Além disso, observamos uma forte influência das shortfalls linneana e wallaceana no conhecimento dos troglófilos brasileiros, e um complemento para a shortfall Racovitiziana foi proposto, decorrente da dificuldade em categorizar um organismo como troglófilo, o que requer interpretação ecológico-evolutiva. A base de dados obtida será disponibilizada para futuras consultas e modificações no site do Laboratório de Estudos Subterrâneos (https://www.lesbio.ufscar.br), sob o nome BioTroglophileBR.

Publicado

01/01/2025

Como Citar

Duarte, M. V. da S. A., Gallão, J. E., & Bichuette, M. E. (2025). Biodiversidade Troglófila no Brasil: uma fauna negligenciada em ações de conservação. Biota Neotropica, 25(3). Recuperado de //www.biotaneotropica.org.br/BN/article/view/2124

Edição

Seção

Artigos
Loading...