O relacionamento entre pessoas e serpentes no leste de Minas Gerais, sudeste do Brasil

Autores

  • Mário Ribeiro de Moura Universidade Federal de Viçosa, Museu de Zoologia João Moojen
  • Henrique Caldeira Costa Universidade Federal de Viçosa, Museu de Zoologia João Moojen
  • Vinícius de Avelar São-Pedro Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Laboratório de Ecologia Evolutiva de Anfíbios e Répteis
  • Vitor Dias Fernandes Universidade Federal de Viçosa, Museu de Zoologia João Moojen
  • Renato Neves Feio Universidade Federal de Viçosa, Museu de Zoologia João Moojen

Palavras-chave:

etnozoologia, escolaridade, Serpentes, Serra do Brigadeiro, comunidades rurais

Resumo

O conhecimento popular sobre as serpentes, incluindo as práticas adotadas em casos de acidentes ofídicos, foi abordado neste estudo etnozoológico realizado na região de Araponga e entorno da Serra do Brigadeiro, Mata Atlântica do Estado de Minas Gerais, região Sudeste do Brasil. Entre agosto e novembro de 2008 foram realizadas entrevistas com 50 moradores da zona rural de Araponga e 20 funcionários do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB). Em relação ao perfil cultural e social, os grupos avaliados diferiram entre si somente quanto ao nível de escolaridade (maior entre os funcionários do parque), apresentando as mesmas distribuições em relação a idade e religião. Também se verificou menor nível de escolaridade entre os indivíduos mais velhos. Em geral, ambos os grupos de entrevistados demonstraram conhecimento adequado sobre prevenção e procedimentos em casos de acidente ofídico (78,2% afirmaram procurar atendimento médico em caso de ofidismo). A utilização de substâncias da medicina popular para tratamento de acidentes ofídicos mostrou-se uma prática em desuso, relatada por aproximadamente 21% dos entrevistados. A maioria dos entrevistados (57,14%) afirmou não saber diferenciar uma serpente peçonhenta de uma não peçonhenta, e 66,67% demonstraram reconhecer o período chuvoso como aquele com maior frequência no encontro com serpentes. O grupo "Araponga" mostrou-se mais hostil em relação a encontros com serpentes, com 43% dos indivíduos afirmando matarem o animal, contra apenas 5% do grupo "PESB". A escolaridade do entrevistado foi decisiva no tipo de atitude tomada diante das serpentes, sendo menos hostis os indivíduos mais instruídos. Pessoas com menos escolaridade apresentaram maior tendência a considerar todas as serpentes como perigosas, e estas se mostraram também mais hostis com estes animais. O maior contato com atividades científicas e educativo-ambientais parece ter sido decisivo para a maior tolerância com as serpentes por parte do grupo "PESB". A realização de atividades de educação-ambiental com a população das comunidades de Araponga pode ampliar a conscientização quanto à importância das serpentes, instruindo aqueles que ainda as consideram indiscriminadamente nocivas.

Publicado

12/01/2010

Como Citar

Moura, M. R. de, Costa, H. C., São-Pedro, V. de A., Fernandes, V. D., & Feio, R. N. (2010). O relacionamento entre pessoas e serpentes no leste de Minas Gerais, sudeste do Brasil. Biota Neotropica, 10(4). Recuperado de //www.biotaneotropica.org.br/BN/article/view/728

Edição

Seção

Artigos
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