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Checklist dos peixes marinhos do Estado de São Paulo, Brasil

Checklist of marine fishes from São Paulo State, Brazil

Resumos

O número de espécies de peixes marinhos listadas para a costa do estado de São Paulo é razoavelmente alto em comparação com outras áreas do Brasil com extensão semelhante, a maior parte representada por espécies demersais que resultaram de coletas realizadas ao longo da plataforma continental. Espécies de fundos rochosos e áreas de recifes e de regiões profundas do oceano são menos abundantes. Como o inventário ainda é incompleto e nenhum projeto foi realizado através do programa BIOTA/FAPESP, espera-se que grupos de pesquisa engajados no estudo de sistemática, biologia e outros aspectos relativos aos peixes marinhos sejam estimulados a contribuir para aumentar o conhecimento atual do grupo.

peixes marinhos; biota paulista; Programa BIOTA/FAPESP


The number of marine fish species listed for the coast of the São Paulo state is reasonably high in comparison with other Brazilian coastal regions of similar extension and mostly represented by demersal species that resulted from collecting efforts along the continental shelf. Species from rocky bottoms and reef areas as well as those from the deep sea are less abundant. Since the inventory is far from complete and no projects related to marine fishes have been carried out through the BIOTA/FAPESP program, it is expected that research groups involved in systematics, biology and other aspects related to the study of marine fishes be stimulated to contribute to increase of the knowledge of the group.

marine fishes; biodiversity of the State of São Paulo; BIOTA/FAPESP Program


INVENTÁRIOS

Checklist dos peixes marinhos do Estado de São Paulo, Brasil

Checklist of marine fishes from São Paulo State, Brazil

Naércio Aquino Menezes*

Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo - USP, Av. Nazaré, n. 481, CEP 04263-000, São Paulo, SP, Brasil

RESUMO

O número de espécies de peixes marinhos listadas para a costa do estado de São Paulo é razoavelmente alto em comparação com outras áreas do Brasil com extensão semelhante, a maior parte representada por espécies demersais que resultaram de coletas realizadas ao longo da plataforma continental. Espécies de fundos rochosos e áreas de recifes e de regiões profundas do oceano são menos abundantes. Como o inventário ainda é incompleto e nenhum projeto foi realizado através do programa BIOTA/FAPESP, espera-se que grupos de pesquisa engajados no estudo de sistemática, biologia e outros aspectos relativos aos peixes marinhos sejam estimulados a contribuir para aumentar o conhecimento atual do grupo.

Número de espécies: No mundo: 15.950, no Brasil: 1.297, estimadas no Estado de São Paulo: 594.

Palavras-chave: peixes marinhos, biota paulista, Programa BIOTA/FAPESP.

ABSTRACT

The number of marine fish species listed for the coast of the São Paulo state is reasonably high in comparison with other Brazilian coastal regions of similar extension and mostly represented by demersal species that resulted from collecting efforts along the continental shelf. Species from rocky bottoms and reef areas as well as those from the deep sea are less abundant. Since the inventory is far from complete and no projects related to marine fishes have been carried out through the BIOTA/FAPESP program, it is expected that research groups involved in systematics, biology and other aspects related to the study of marine fishes be stimulated to contribute to increase of the knowledge of the group.

Number of species: In the world: 15,950, in Brazil: 1,297, estimated in São Paulo State: 594.

Keywords: marine fishes, biodiversity of the State of São Paulo, BIOTA/FAPESP Program.

Introdução

O termo "peixes" aqui utilizado tem uma conotação meramente convencional, ou seja, não representa um grupo monofilético no sentido filogenético e inclui tanto feiticeiras ou peixes-bruxa da Classe Myxini, como peixes cartilaginosos da Classe Chondrichthyes e peixes ósseos da Classe Actinopterygii.

A área costeira do Estado de São Paulo não representa uma região biogeograficamente definida, pois não há limites nítidos que permitam caracterizar uma ictiofauna marinha exclusiva. Muitas, senão a maior parte das espécies de peixes marinhos que ocorrem no litoral de São Paulo, existem também ao norte e ao sul, dentro de uma região que foi denominada Província biogeográfica Argentina (Rossi-Wongtschowski et al. 2009). Algumas espécies extrapolam os limites desta província, ocorrendo em outras áreas do Atlântico ocidental e, principalmente as espécies pelágicas, podem ter distribuição circunglobal. Por esta razão, é difícil calcular com certa precisão o número de espécies de peixes marinhos do litoral de São Paulo, mesmo com o auxílio de dados contidos na literatura mais recente. Embora muito melhor conhecida que a ictiofauna de água doce, como mencionado por Castro & Menezes (1998), ainda existem lacunas de conhecimento em áreas carentes de inventariação como, por exemplo, os costões rochosos e áreas mais profundas do oceano. A maior parte dos esforços de coleta concentrou-se nos peixes demersais encontrados junto ao substrato da plataforma continental, através de vários projetos realizados por pesquisadores e estudantes do Instituto Oceanográfico da USP a partir de 1970 (Rossi-Wongtschowski et al., 2009). Mais recentemente, graças às atividades desenvolvidas durante o projeto "Conhecimento, conservação e utilização racional da diversidade da fauna de peixes do Brasil" - PRONEX, apoiado pelo CNPq (Menezes et al., 2003), os estudos de Moura (2003) contribuíram para o conhecimento da diversidade e riqueza dos peixes recifais. Por outro lado, também houve uma contribuição decisiva para o conhecimento da diversidade dos peixes pelágicos e batipelágicos através do Programa "Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva - REVIZEE (Rossi-Wongtschowski et al. 2009).

Métodos

A lista das espécies apresentada nas Tabelas 1 e 2 foi obtida do "Catálogo das espécies de peixes marinhos do Brasil" (Menezes et al. 2003), que contém a relação mais atualizada das espécies que ocorrem na costa brasileira, elaborada por um conjunto de especialistas nos diversos grupos de peixes representados. Neste catálogo, a ocorrência de cada espécie foi determinada através de pesquisa exaustiva da literatura, sendo incluídas apenas aquelas efetivamente documentadas através de descrições originais ou exame de material catalogado em coleções de museus.

O número estimado de espécies de peixes marinhos e estuarinos na região costeira que inclui o estado de São Paulo (594) é inferior a 650, número estimado em Rossi-Mongtschowski et al. (2009), mas o critério aqui adotado é distinto, uma vez que só foram incluídas as espécies explicitamente citadas como ocorrendo no litoral de São Paulo ou cuja distribuição conhecida inclui esta região. As espécies citadas no referido catálogo como distribuindo-se, por exemplo, no Atlântico ocidental até o leste do Brasil não foram consideradas.

Resultados e Discussão

Levando-se em conta a relativa uniformidade ambiental na região costeira do Estado de São Paulo, onde predomina uma ictiofauna marinha constituída por peixes demersais devido a existência de uma ampla plataforma continental com substrato de lama e areia (Rossi-Wongtschowski et al. 2009), a riqueza, considerando-se o número estimado de espécies é razoavelmente alta. Não há abundância de peixes associados à presença de fundos consolidados e recifes coralinos, como acontece em outras regiões do Nordeste do Brasil, mas quando comparada à ictiofauna de regiões mais ao sul, ainda mais pobres de tais formações, a diversidade no litoral de São Paulo é maior. A região costeira do Estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, também caracterizada pela existência de ampla plataforma continental dentro da mesma Província Argentina e com extensão costeira equivalente à do Estado de São Paulo, tem cerca de 350 espécies de peixes marinhos e estuarinos, número estimado através do mesmo critério aqui indicado. A seu favor o estado do Rio Grande do Sul tem os cruzeiros realizados na plataforma continental de março de 1968 a abril de 1969 (GEDIP 1) e em 1977 (GEDIP 2), com a utilização do R/V "Prof. W. Besnard" do Instituto Oceanográfico da USP (vide descrição mais detalhada em Menezes et al. 1997). Os arrastos foram realizados entre 10 e 200 metros de profundidade, capturando-se um grande número de espécies demersais.

No Programa BIOTA/FAPESP não houve nenhum projeto relacionado a peixes marinhos o que, espera-se, venha a ocorrer proximamente. Como a inventariação da fauna de peixes marinhos e estuarinos ainda é incompleta, projetos visando documentar o que existe através de coletas em áreas menos conhecidas precisam ser elaborados nos próximos anos. Paralelamente, projetos de pesquisa dirigidos ao conhecimento da biologia (alimentação, reprodução, ciclo de vida, etc.) das espécies são fundamentais para proporcionar o conhecimento básico necessário, principalmente das espécies comercialmente exploradas, para orientar decisões objetivando a elaboração de planos de gestão e manejo da pesca. Como muitas das espécies atualmente pescadas estão sobrexplotadas (Rossi-Wontschowski et al. 2009), medidas urgentes, embasadas em dados confiáveis, precisam ser tomadas para garantir a sobrevivência destas espécies nos próximos anos.

Os principais grupos de pesquisa do estado de São Paulo engajados no estudo de peixes marinhos exercem suas atividades no Instituto Oceanográfico (IOUSP), Museu de Zoologia (MZUSP), ambos da Universidade de São Paulo e Instituto de Pesca - SAA/APTA, sediado em Santos. No primeiro, os estudos são mais dirigidos a aspectos biológicos, enquanto no segundo a pesquisa é voltada mais à sistemática e biogeografia.

A maior parte dos exemplares resultantes dos projetos realizados por pesquisadores e alunos do IOUSP durante campanhas de curta e longa duração foram depositados, mediante acordo, na coleção ictiológica do MZUSP, que representa o maior acervo do país. O estudo deste material tem possibilitado o desenvolvimento de dissertações e teses. O Instituto de Pesca tem seus objetivos mais relacionados à pesca no estado de São Paulo.

Apesar dos esforços realizados para inventariar a fauna de peixes marinhos do estado, há lacunas decorrentes da inexistência de coletas em áreas pouco exploradas, como costões e fundos rochosos, utilizando aparelhos diversificados, como sugerido por Castro & Menezes (1998).

Agradecimentos

Carmen Lúcia D.B. Rossi-Wongtschowski (IOUSP) e José Lima de Figueiredo (MZUSP) leram o manuscrito e acrescentaram valiosas observações.

Recebido em 28/05/2010

Versão reformulada recebida em 14/10/2010

Publicado em 15/12/2010

  • CASTRO, R.M.C. & MENEZES, N.A. 1998. Estudo diagnóstico da diversidade de peixes do estado de São Paulo. In Biodiversidade do estado de São Paulo, Brasil: síntese do conhecimento ao final do século XX. Vertebrados (C.A. Joly & C.E.M. Bicudo, orgs.). Programa BIOTA/FAPESP, São Paulo, v.6, p.3-13.
  • MENEZES, N.A., FIGUEIREDO, J.L. & BRITSKI, H.A. 1997. Ichthyological collection building at the Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. In Collection Building in Ichthyology and Herpetology. American Society of Ichthyologists and Herpetologists (T.W. Pietsch & W.D. Anderson Jr., eds.). Special Publication Number 3, p.561-565.
  • MENEZES, N.A., BUCKUP, P.A, FIGUEIREDO, J.L. & MOURA, R.L. (eds.) 2003. Catálogo das espécies de peixes marinhos do Brasil. São Paulo: Museu de Zoologia, 159 p.
  • MOURA, R.L. 2003. Riqueza de espécies, diversidade e organização de assembléias de peixes em ambientes recifais: um estudo ao longo do gradiente latitudinal da costa brasileira. Tese de doutorado, Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.
  • NELSON, J.S. 2006. Fishes of the world. 4th ed. John Wiley & Sons, Hoboken, New Jersey, 601p.
  • ROSSI-WONGTSCHOWSKI, C.L.D.B., VAZ-DOS-SANTOS, A.M., RODRIGUES DA COSTA, M., FIGUEIREDO, J.L., ÁVILA-DA-SILVA, A.D., LEÃO DE MOURA, R. & MENEZES, N.A. 2009. Peixes Marinhos. In Fauna ameaçada de extinção no Estado de São Paulo (P.M. Bressan, M.C.M. Kierulf & A.M. Sugieda, coords.). Fundação Parque Zoológico de São Paulo; Secretaria do Meio Ambiente, São Paulo, p.427-567.
  • *
    Autor para correspondência: Naércio Aquino Menezes, e-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Out 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 2011

    Histórico

    • Revisado
      14 Out 2010
    • Recebido
      28 Maio 2010
    • Aceito
      15 Dez 2010
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